sexta-feira, janeiro 20, 2006

L'amour sauvage



Inesperadamente, estou encostado à parede da Procuradoria-Geral da República.
Não sei como fui lá parar, o que faço ou o que espero. Passam carros, autocarros, fragonetes, pessoas a pé e a cavalo, meros transeuntes, numa rua que parece ter sido feita apenas para percorrer em passo acelerado. Chiça, que calor. A manhã encontra-se possuída por um sol abrasador. Dispo o casaco e a camisola. e que raio faço eu aqui imobilizado? Pensar é inútil...
Sei que passado algum tempo já estou sentado, no chão, ao lado dos eternos contestatários…quando sinto já o corpo a amolecer e a alma desfalecida, a derreter-se por entre as pedras da calçada, uma visão atravessa-me a espinal-medula. Uma mulher, que não faço a mínima ideia como descrever, vem ao fundo da rua. Parece-me ser elegante e extravagante, deve ser bailarina de uma qualquer companhia de dança de renome internacional. Nos tempos livres pinta retratos joviais, escreve poesia e dorme, dorme muito. É assim que me parece à primeira vista.
Levanto-me e tremo de ansiedade. A mulher aproxima-se, aproxima-se como que voando. E eu tremo. Quando está apenas a sete ou oito narizes de distância atiro-me a ela, como um leão em plena savana a caçar uma frágil gazela. Agarro-a pelo braço e encosto-a à parede da Procuradoria-Geral da República Tens pinta miúda digo em tom grosseiro o teu rabo é um regalo à vista acrescento comparável apenas à genial nona sinfonia de Beethoven!
Largue-me sua besta quadrada, não vê que me está a aleijar!! Os teus lábios são como água no deserto: raros e apetecíveis!
Socorro!! Tirem-me das mãos deste doido!
e eu insisto os teus cabelos são esplendorosos...mas não consigo acabar a frase. Os até então impávidos e serenos contestatários lançam-se sobre mim e batem-me, arranham-me, beliscam-me. Expulsam os sentimentos frustrados, a sua revolta, o silêncio que ao longo dos anos mantiveram religiosamente à entrada do edifício moribundo. Tudo isto sobre mim. No chão, sem hipótese de fuga, levo porrada sem nada sentir. Apenas sinto uma dor, bem cá no fundo, ao ver a mulher arrancar pela rua fora e a escapar-se, para sempre, pela Rua do Salitre…era, sem margem para dúvidas, a mulher da minha vida!

5 Comments:

At 10:39 AM, Blogger Mónica Chantre said...

Aaaii.. (suspiro)

Fosse eu bailarina. e fosse isso verdade. Calma casamenteiros, não necessariamente contigo, José.

Que belo post.

Melhor que mil comentários ao meu.

Quem se segue na saga "A Arte da Sedução na Procuradoria Geral da Republica"?

Souto Moura agradece. E eu tb!

PS - e aquele casal devia era LEVAR porrada!

 
At 8:59 PM, Anonymous Anônimo said...

isso é o fim possivel pra um de nós, dps de seguir os conselhos amorosos das nossas amigas. de facto, a contabilidade do folha está quase certa... lol

 
At 9:06 PM, Anonymous Anônimo said...

ah, alias, acho que a melhor prova disso, é o comentario que a mocca faz: "Calma casamenteiros, não necessariamente contigo, José"... pois, nao é a questao de como se faz a coisa, interessa mas QUEM a faz... acho q só podemos partir pra "ignorancia" com quem temos a certeza que está interessada em cair na rede. mas entao daí, nao se conquista a mulher por aquele acto e sim pelos outros todos. e la se foi o sonho de seduçao do jose!

 
At 6:35 PM, Blogger Mónica Chantre said...

artur, usar as minhas palavras como argumento comprovativo de algo que vai completamente contra as minhas believes é rasco.

"calma casamenteiros" era SÓ pra evitar as piadolas dos lolipops!

romântica e sonhadora como sou, era incapaz de dar este fim a alguém que tivesse esta atitude comigo.

nunca digas nunca. mas seria pouco provável.

e não vamos levar as coisas tão à letra. não é preciso isto. é só preciso seduzir. e seduzir com a certeza que ela já está no papo não é seduzir.

seduzir implica risco. e vocês não estão dispostos a arriscar. levar um não doi demais e doi ainda mais para um macho orgulhoso...

pois bem..

entram em cena as "mulheres machas" que tomam conta da situação. E aí queixem-se.

não vos fere o orgulho ver uma mulher a convidar, a ir buscar a casa e a pagar a conta no fim? (sim, igualdade... bullshit)

e uma miuda a agarrar-vos no pescoço e e arrancar-vos o primeiro beijo? não é estranho?

sermos nós a dizer: estou sozinha em casa, não queres passar lá?

não podemos seduzir. fica mal. ou pelo menos a nossa sedução não pode passar do decote e do sorriso provocante. senão somos cabras...

e assim vai morrendo a sedução.

PFF... MENINAS!

 
At 5:28 PM, Blogger B.A.B.E. said...

..."cada uma tem a sua, e quem quiser dá-la...dá!"

(so pa acrescentar!)

=D

 

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