sábado, fevereiro 25, 2006

Metro e 55


Boas tardes!
Bom, como me foi dito que eu falo muito da minha mãe eu decidi mudar isso... hoje vou falar da minha mãe mas vou chamar-lhe pai... é importante é que não se esqueçam de que na verdade estou a falar da minha mãe... apenas lhe estou a chamar pai... precisamente para não falar da minha mãe... embora de facto seja dela que falo... embora mencionada como pai... uma mãe- pai portanto... uma mai ou pãe se preferirem... resumindo, hoje vou falar da minha mãe mas vou chamar-lhe pai!

Ok, agora que já estamos esclarecidos anuncio que hoje vou falar de um ritual que poderia classificar de milenar se tivésse mil anos pelo menos... mas não tem... por isso chamo-lhe apenas de ritual semanal... porque acontece todas as semanas (embora milenar tenha mais impacto... mas semanal é mais verídico)... ok falo-vos então do ritual milenar que vivo todos os sábados de manhã com o meu pai (que é a minha mãe... por causa daquela história de cima e tal).

Ora independentemente das horas a que eu chegue na 6af anterior eu nunca falho um sábado de compras semanais no Feira-Nova do Barreiro com o meu pai (que é a minha mãe). porquê? (perguntam vocês... ok pergunto eu supondo que vocês perguntavam "porquê?"... provavelmente nem o fariam mas neste caso calha bem... porquê que calha bem? quem é que está agora a perguntar isto? eu ou eu fazendo de vocês? joão concentra-te! Feira-Nova remember?! ok joão acalma-te! 1... 2... 3... deep breath...)

É verdade... o meu pai (mãe... juro que não volto a lembrar que é a minha mãe... agora vou confiar vocês...) entra no FN sentindo-se Maximus a entrar no Circulo Máximo em Roma, Pélé a entrar no Maracanã, uma vaca a entrar na India, ou um saco de farinha na Somália! Ali ele (ela!) sabe que manda! he (she) calls the shots! rula! It´s like when the freakin Pope enters the church! he´s (you know) the macdaddy! you dig?!

Ora depois de notar que se esqueceu da chapa para pôr no carro e de verificar que não tem moeda de cinquenta centimos vira-se para mim a perguntar se eu os tenho... se tiver muito bem, se não é uma boa desculpa para ele (exacto!) tomar a primeira bica da manhã, dizendo que é apenas para trocar dinheiro (ele (lembram-se?) é hiperactivo (a), fuma 1 maço por dia e bebe, num dia, cafeína suficiente para que todos os jogadores de todas as selecções do Mundial dessem positivo em todos os controlos anti-dopping a que fossem submetidos... se todas as equipas conseguissem chegar à final... ah e a criatura jurava que tinha a tensão baixa até ter recentemente recebido da parte do médico a notícia de que tinha a tensão muito alta... go figure!!!)

Depois de termos o bendito carro das compras nas minhas mãos ele (...) passa as barreiras electrónicas e aí sim "The Godfather", "The Soprano", "Al Capone"... todos eles tomam de assalto o seu corpo... refiro que todo o santo sábado realizamos o mesmo percurso na FN, em relação à ordem de compra dos produtos, mas sempre por caminhos diferentes. e porquê? porque aquele metro e 55 de pessoa encolhe-se no seu enorme casaco, como quem se prepara para enganar meio-mundo e assume uma postura de pessoa perdida e ingénua... ele sabe que não pode mostrar todo o jogo ao enimigo! e ali todos os seus co-consumidores são enimigos! assim fazendo-se de ingénuo (viram ali deixei escapar... estou a confiar em vocês) provoca simpatia... passo a passo, esfregando as mãos como quem se prepara para dar um grande golpe, dirigimo-nos à secção do pão, percorrendo posteriormente a zona das carnes, onde sábado sim, sábado não, pegando numa embalagem de chouriço de sangue se vira para mim perguntando: "amanhã faço cozido?", ao que eu respondo "pode ser"...

Dali passamos para a zona da fruta (é necessário referir que todo este caminho é realizado com voltas e mais voltas e mudanças constantes de direcção, de forma a dar a propositada impressão de que não sabemos bem para onde nos estamos a deslocar... o que me irrita solenemente (embora admire a astúcia e hoje em dia faça já esse ar de irritado como fazendo parte do jogo)). depois de me fazer a milenar pergunta: "não levas amendoins?" e de ouvir a milenar resposta: "gosto mais dos do LIDL", dirigimo-nos para as verduras, onde existe uma senhora em cartão muito realista (digo realista não no sentido de ser uma pessoa com os pés bem assentes no chão mas porque é feita de cartão e parece mesmo uma pessoa real).

uma vez na secção dos cremes de barbear, dos geles/géis, das pastas e de tudo isso todas as perguntas são dirigidas à minha pessoa: "há creme de barbear"; "há pasta de dentes?"; "há champô?" (devem recordar-se que todas estas respostas são já conhecidas, fazendo tudo parte do plano bem engendrado de demonstração de ingenuidade... o que comprovo não só pelo brilho nos olhos de quem sabe o que está a fazer, mas também no facto de que a minha resposta raramente é tida em conta)... ora quanto ás pastas de dentes todas elas têm uma especialidade, nunca surgindo nenhuma que ao mesmo tempo que branqueia, também livra de cáries, deixando igualmente a boca fresca, com sabor e salva e mirra... sendo assim varíamos consoante a jovialidade da embalagem... o creme de barbear é de espuma, o Gel-Duche deve vir numa grande garrafa, com 33% grátis, não sendo a marca importante já que, e cito: "é tudo a mesma coisa"... em relação ao champô é normalmente Panténe porque, e cito: "é o melhor"...

já na zona das bolachas e dos chocolates a minha vontade é na maior parte das vezes negligenciada... tenho um fétiche por bombocas... não que seja grande apreciador... mas porque existem há muito tempo! é certo que ninguém as compra mas se continuam a existir é porque deve ter algum valor... mas segundo Don Corleone: "isso não presta"... perto dos donuts, após várias amassadelas nos mesmos: "vamos levar donuts!"... à minha cara de indeciso desfere então o golpe final: "olha vamos levar aquelas roscas torradas!"... é altura de referir que estas mesmas roscas são as suas bolachas preferidas e não as minhas... vêm em pacotes de 4 e são simplesmente roscas tostadas cobertas de açucar... constato então que sempre que entro na zona das bolachas é-me sempre dada a sensação de uma falsa liberdade de escolha que nunca se concretiza... hoje e perante vós admito que me é consciente mas afinal não sou eu que, em nome de umas bolachas, vou desmascarar este Napoleão do FN.

perto do final, a zona das bebidas recebe a nossa visita... "levamos Pleno?", ao que respondo: "estou farto de Pleno"... de vez em quando levamos Coca-Cola ou outro sumo qualquer que nos dá a sensação de radicalidade... 90% das vezes levamos mesmo Pleno... refira-se que é o seu sumo preferido.

antes de nos dirigir-mos para a caixa "esquece-se" sempre dos ovos e da manteiga... hoje lixou-se que já não havia a manteiga Pingo-Doce: "é a melhor por isso já todos a levaram".

já na caixa tira pelo menos 20 sacos de plástico vazios para o carrinho perguntando num tom suave ao caixa: "posso tirar uns saquinhos?", posto que se vira para mim, após receber a devida autorização, e diz, num tom trapaceiro, mas um trapaceiro inofensivo, :"põe aí que eu não tenho sacos em casa"... trabalhamos em equipa, eu abro sacos, ele (estou a refrir-me à minha mãe como sendo o meu pai porque me tinham dito que eu falava muito da minha mãe e assim embora esteja a falar nela, tecnicamente nao estou... aliás tenho feito questão de o referir quase sempre...) ensaca os produtos e tentamos sempre estar a par do caixa de forma a que quando este já tiver passados todos os produtos e olha para nós para pedir o dinheiro já encontre diante do seu nariz o cartão de crédito (até hoje o meu pai (muito bem estão atentos! se isto vos tiver a chatear...) nunca o conseguiu...mas um dia...).

toma-mos mais uma bica... para ele (amanhã o Benfica joga com o Porto... e estou a falar da minha mãe) uma queijada e para mim uma coxa de frango ou uma empada de frango e segui-mos para casa... adoro aquele metro e 55 de pessoa...

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

José e João são um só




O rei da brincadeira, ê José
O rei da confusão, ê João
Um trabalhava na feira, ê José
Outro na construção, ê João

Na semana passada
No fim da semana
João resolveu não brigar
No Domingo de tarde
Saiu apressado
E não foi pra Ribeira jogar
Capoeira, não foi pra lá
Pra Ribeira, foi namorar
O José como sempre no fim da semana
Guardou a barraca e sumiu
Foi fazer num Domingo, um passeio no parque
Lá perto da boca do rio
Foi no parque que ele avistou
Juliana, foi o que ele viu
Foi que ele viu
Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana, seu sonho uma ilusão
Juliana e o amigo João
O espinho da rosa feriu o Zé, feriu o Zé, feriu o Zé
E o sorvete gelou seu coração
O sorvete e a rosa, ô José
A rosa e o sorvete, ô José
Ô dançando no peiro, ô José
Do José brincalhão, ô José
Juliana girando, oi girando
Oi na roda-gigante, oi girando
Oi na roda gigante
O amigo João, ô João
O sorvete é morango, é vermelho
Ô girando
E a rosa é vermelha
Ô girando, girando
É vermelha
Ó girando, girando
Olha a faca!
Olha a faca!
Olha o sangue na mão
Ê José
Juliana no chão, ê José
Outro corpo caído, ê José
Seu amigo João, ê José

Amanhã não tem feira, ê José
Não tem mais construção, ê João
Não tem mais brincadeira, ê José
Não tem mais confusão, ê João



Gilberto Gil

...para vocês

têm melhor foto pra este post? o prémio ainda está à espera.
Mocca Juliana

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Parabéns Alberto!

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Pressão com gás


Num armazém escuro...

Por favor, não dispare…eu não fujo, prometo…!

Não vou fugir, não vou…NÃO vou!!!

Já percebi as regras do jogo, faço tudo como os senhores quiserem. Mas por favor, não disparem. Onde é preciso assinar?

AQUI!

Prometo que não volto a abandonar as convenções e as instituições, o emprego e o dinheiro e que não ando nu pela rua, muito menos praticar ginástica em locais inapropriados.

alberto

mas vá, meus senhores, agora à parte do acordo…sejam compreensíveis, só umas pequenas fugas, assim de vez em quando. Umas fugas discretas. pequeninas. ligeirinhas.

PÀAAAAAAAAA........

Levanto-me da cama num pulo. que Pesadelo pesado. Não consigo dormir mais e dirijo-me à cozinha. Abro o frigorifico e tiro uma lata de refrigerante. É uma coca-cola.

Sempre Coca-Cola

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Cadê você???




Desapareceu do mundo LOLIPOPiano, aí-mais-ou-menos-há-cerca-de-à-volta de algum tempo, Mílvia Catarina Mateus Alves. Pede-se a quem tiver informações, ou a quem simplesmente lhe apetecer, que comente o nariz azul.


Alguns dados (ir)relevantes:

  • Se vir uma loira, que toda a gente conhece como ruiva, mas tem o cabelo castanho escuro ...é ela!
  • Se vir alguém discutir por causa de nada … é ela!
  • Se vir alguém dissertar sobre o novo Nokia 9857i, com MP3, kit mãos-livres, Câmara megapixel, bluetooth, Leitor de multimédia, tons de toque MP3/AAC, rádio FM, é ela!
  • Se ouvir alguém dizer, numa só frase, “upgrade” mais de 3 vezes, “patati patata” mais de 2 vezes, “xau Laura!” mais de… (hum?) ... Se ouvir “xau Laura!”… é ela!!

Atenção: Aspecto real não corresponde inteiramente à fotografia! A Mílvia ficou bastante fotogénica nesta.

Possível pista do seu paradeiro: “CoNhEcEr A cIdAdE dO pOrTo PoRrA!!” - comment ao post de 26 Janeiro de 2006 (Última intervenção no nariz azul)


PS: não, não são saudades! 'tou é mesmo a precisar de um telemóvel desbloqueado por uns dias.

sábado, fevereiro 11, 2006

Nariz Azul no Cinema

Alberto=====
Bélinha =====
Fuser =====
Mocca Chocca =====
O Agostinho =====
Pãopóspatos=====
Pedretti ===== *
Mílvia - - - - -
*ninguém lhe perguntou nada mas nós achamos que ele dá 4 estrelas e como o blog é nosso...



“Uma história de amor que Deus não desejou. Uma história onde a banalidade impera e onde nos tentam impingir mais uma vez o irritante lobby gay” Pãopóspatos

"Um filme que nos faz repensar a verdadeira noção de ser homem.
Homossexuais não são necessariamente bichas. Não sei, não estou inspirada e estou com pressa."
Bélinha

“Romance sem sal que vale pela abordagem ao tema da homossexualidade” Alberto

“Mais um dramalhão bem feito que me fez correr muita lágrima. Fico à espera de Brokeback Valley com Angelina Jolie e Jessica Simpson. Ou então com a B.I.T.C.H. e a B.A.B.E. do olhaquefoudasse.” Mocca Chocca

“É muito bonito, mas é contra-natura...” O Agostinho

“Um filme intenso, uma história de amor, camaradagem e fidelidade bastante bem conseguida. Actuação excelente dos dois actores num cenário surreal de ruralidade norte-americana que os americanos fazem questão de esquecer que existe.” Fuser


“Acho que vai ajudar a quebrar alguns preconceitos. Adeus minha querida (pegando na mão de Fuser)!” Pedretti (em substituição de Mílvia, a Emigrante Beirã Desaparecida)


Epah eu faço os titulos no final e agora já não estou com pachorra...


Ok, admito que por vezes me assusto com a minha falta de interesse em relação a alguns assuntos que parecem ser relevantes... não percebo porque o são mas a verdade é que constam sempre de um Agenda Setting (afinal parece que aprendi algo no Instituto Supérfluo de Couve Salsa e Pimento (desculpem mas não quis perder tempo com o CSP que aliás se parece muito com C(D)SP(P)...coincidência com certeza) de qualquer Orgão de Comunicação Social...

(Olha olha fiz um parágrafo!!!...não se vai repetir)... mas falo por exemplo duma OPA da Sonae... dum Hamas... dum os russos cortaram lá o gás na Geórgia ou o caralho... ou mesmo daqueles repetidíssimos acontecimentos chineses que são apenas 3: Estátuas de gelo, nascimento de pandas ou porrada entre estudantes e a polícia... referindo-me apenas a estes (falarei de outros se me tentar lembrar de mais algum... e o conseguir), dirigir-me-ei primeiro a uma OPA... uma OPA põe um qualquer fato e gravata em ebulição! Acções, Praças, Grupos, Empresas, Sonaes, Pt´s, Monopólios, Administradores, Executivos, Departamentos, Repartições (de nada José), Marketings, Leasings, Franchizings, Downsizings, Upsizings, Leftsizings, Rightsizings mais 1300 "izings" que me fazem bombear o coração de tal forma que me aptece saír pela rua à corunhada a todo o transeunte que se me apareça à frente... mas quanto à OPA...

(este parágrafo dá-me jeito)... quanto ao Hamas, ao gás e à China não vou falar porque agora que fui buscar à cozinha o pão com ovo mechido que a minha mãe me fez, lembrei-me que esta conversa começou porque eu estava a dizer que ligo muito pouco a estas merdas e me apetece falar de algo que acho muito mais interessante para o mundo que é o ritual que realizo todos os sábados de manhã com a minha mãe, sobre o qual não vejo ser dado qualquer destaque na CNN nem na BBC, porque os seus pivots indianos e paquistaneses passam 24h a anunciar imagens de árabes a queimarem bandeiras, de condutas de gás na URSS e o caralho ("e o caralho" é uma expressão filha da puta!, que por sua vez é uma expressão do caralho)...ora onde é que anda a minha mãe? exacto, está ali cinco linhas acima. Epah vai ter de ficar para outra altura porque agora comecei a falar com a Carla no MSN e já me deu a preguiça de escrever aqui...

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Ouvido Azul


Basicamente é assim, Eu virei-me e disse vícios de discurso? Oh! Tipo que nem tenho muitos, tas a ver? Ele virou-se ah e tal e patatati patata! Do género, eu tinha dito que não tas a ver e até achei estranho! Mas uma ganda cena memo, tas a entender?! E ele Ah! as népia era mais do género nanana nanana e eu bué da tempo depois virei-me pah, tão? tipo do género! AH! E depois ele Ah mas tens alguns e eu Alguns? Na! Ihh que cena! Fónix! Ya é assim! memo bués! Pah eu virei-me pra ele, ya percebes? na boa! é que era naquela percebes? Ya disse-lhe memo! Mas tudo bem. Ih caraças! Népia! Achas? Por mim é naquela. Era só uma ideia. Ya mas depois a gente fala melhor, tá linda? Yaya na boa, depois eu ligo-te!



Mocca Chocca

domingo, fevereiro 05, 2006

No fim da avenida


Taaaaxxxiiii!!!

de imediato, e como acontece em qualquer filme norte-americano, um carro de serviço cai aos meus pés... "PUMM" , bato a porta do táxi e ordeno: para a Avenida Landerset Barata! com certeza, responde o fogareiro, é já a seguir, é que é já a seguir! Bom dia, este é o noticiário das 9h32!!! grita a rádio o primeiro-ministro anunciou hoje em conferência de imprensa que “o homem está a chegar a uma alienação total e a existência humana não é mais que uma mercadoria”…por entre o treme treme do táxi vejo pessoas a correr nuas pela rua…o senhor viu ontem a vergonha do Desportivo de Fedoper, desabafa o homem ao fazer uma curva que exigia uma clara redução para segunda…não, não vi.
Tombo no silêncio e desprezo a conversa.

Uma travagem profunda anuncia que cheguei e lanço uma nota de valor elevado ao ar…fique com o troco! Ao entrar com o nariz na repartição de assuntos esquecidos do Estado dou de caras com o patrão. Já viu que horas são? Já viu que chega aqui SEMPRE às 9h45 quando era suposto chegar precisamente às 9h00! Sabe como é esta cidade…imprevisível, os carros atropelam-se e as pessoas são mais que muitas! Ainda para mais o Desportivo de Fedoper foi ontem goleado…o senhor alberto tem exactamente 25 minutos para retirar as suas coisinhas da sua secretária e abandonar para sempre esta repartição! E atenção que com esta conversa já passaram 10 minutos! Mas..mas…

é JÁ!! JÁ!!

Faço um triplo salto até à minha secretária e arrumo obedientemente a minha caneta, o meu agrafador. Mas…mas…e num só gesto entro pelo gabinete do patrão adentro e espeto-lhe a caneta pelo umbigo, agrafo-o a orelha esquerda à secretaria e espeto-lhe com um dos dossiers de processos morosos pelo fígado. E corro desvairadamente pela porta fora enquanto os empregados dos quadros mais antigos coxeiam atrás de mim com furadores, clips e outros objectos que tais para me agredirem.

Já ao fundo da Avenida Landerset Barata respiro sofregamente de alívio. Estou notoriamente feliz.

Mas e agora? Que será de mim? Cantor de ópera, jogador de futebol num campeonato semi-profissional…podia ir para Paris e fazer-me empregado de uma croissanteria! Ou dedicar-me às artes circenses e tornar-me um malabarista dos melhores. Hmmm…tocar gaita-de-foles, viajar por um continente grande e arejado, escrever, tirar um curso rápido de diplomacia e fazer-me embaixador, carpintaria, roubar um banco…sei lá!! Uma infinidade de ideias trespassam a minha cabeça.

Mas não é tempo para pensar. Rebolo pelo resto de avenida que sobeja apreciando o cântico dos pássaros vadios e olho para o céu cinzento e pesado que adivinha chuva. E que chuva!

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

A multa

Há quase 3 anos atrás fui multado por não ter a inspecção do carro feita... aquilo revoltou-me tanto que cheguei a casa e despejei umas coisas no computador. Aqui estão elas:


O dinheiro mais difícil de gastar é aquele que paga uma multa...sinto isso agora. Não por ter acabado de pagar uma multa, mas só de pensar que terei de pagá-la. Não por que a multa seja injusta (mas também não digo que é). Toda a situação acaba por ser revoltantemente estúpida. Passo a explicar...



Ia eu dentro do meu velho e companheiro Volkswagen Golf (passo a justificar porquê os termos que foram referidos podem ser contestados ou confirmados, conforme o caso: mais à frente provar-se-á que o carro é de uma pessoa que eu nem sequer conheço; fabricado no ano de 1988, com uma inscrição curiosa no motor original: “Made in West Germany”; o automóvel seria companheiro de uma aventura por acontecer, acontecido o que aconteceu, lá se vai a odisseia a Itália... esperemos que não), quando, ao passar numa rotunda, um agente de autoridade, pertencente a um batalhão da PSP que realizava uma operação stop, ordena que eu encoste o carro.


Obedecedor e submisso, orientei o carro para onde indicava o oficial. Ao parar, pede-me os documentos da viatura, que lhe são nervosamente entregues. Seguiam comigo a minha irmã, o companheiro/mano Pedro Vintém e a nossa amiga Xana. Mesmo antes de pedir a documentação do veículo, o agente já tinha verificado os três indicadores de possível infracção: o selo, o comprovante do seguro e da inspecção do carro. Com a cara que me foi apresentada por ele, logo percebi que ele se havia apercebido que existia irregularidade em relação à inspecção do automóvel. Ao inspeccionar os documentos que lhe entreguei, começa a questionar-me em relação à falada anomalia. Logo foi buscar outra possível infracção, o proprietário do carro. Como não estava em meu nome, questionou-me sobre o tal proprietário. Expliquei-lhe que pertencia a uma “tia” minha... a tia Túlia. Sobrenome? Não me recordei... “Então não sabe o nome da sua tia?!” – perguntou o polícia de maneira arrogante. Expliquei que não era bem uma tia, apenas lhe chamava assim por tratar-se de uma amiga, há longa da data, de minha mãe.


Certamente, ao ouvir as minhas palavras gaguejadas, passaram-se muitas coisas pela cabeça do senhor... “carro roubado” ou algo do género, sugiro eu. Foi então verificar, pelo rádio da viatura policial, a quem realmente pertencia o carro. De lá, o rádio gritou um nome que me era completamente desconhecido. Pensei logo para mim que o carro não tinha sido passado para o nome da minha “tia”, apesar da distância temporal da venda do carro. Burocracias ultrapassáveis, não ultrapassadas por existirem outras burocracias envolvidas, pois o carro ainda não estava em nome dela por um problema qualquer em relação a outro carro que estava em nome dela, que não o actual, o de casada. Assim expliquei ao agente, que pela cara que fez, não deve ter tido muito em conta a minha palavra. Questionou-me sobre em quem decairia a responsabilidade do carro, sobre o que se deveria passar de seguida, afirmando pelo meio que podia apreender o veiculo e que a multa que viria seria mais cara do que aquilo que custa o velho “contentor”, como um dia lhe chamou Duarte Tornesi. Humildemente lhe disse que, naquele caso, quem poderia prever o futuro seria ele, não eu. Decidiu-se então multar-me apenas pela infracção relativa à tal inspecção do automóvel, não sei se por pena ou por preguiça.


Mudámos então o cenário da conversa, dirigindo-nos para a motocicleta que equipava o batalhão que me esperava à saída da rotunda, cerca de 8 a 10 agentes. Durante o tempo em que preenchia os autos da ocorrência, passaram-se algumas outras situações com outros automobilistas. Um senhor, aparentemente bêbado, que após o sopro no balão, afirmava que havia tido uma refeição farta e que “tinha comido muito ao almoço”. Por estar ocupado não vi a resolução do caso. Ouvi também que um outro rapaz que havia sido parado não tinha o seguro, obrigatório, do automóvel. Foi então que surgiu a situação mais ridícula. Aproxima-se um carro, se não me falha a memória, um Ford com design sofisticado cujo nome agora não me recordo. No assento do motorista, uma senhorita/senhora. Loira, aparentemente bonita e elegante, cujo cinto de segurança (não o das calças e sim o do carro) não estava a ser devidamente utilizado. Não estava a ser utilizado, ponto. Reparei na expressão risonha do oficial que se aproximou do carro da mulher... após uma breve conversa (ouvida não por mim mas pelos ocupantes do Golf branco que me punha em sarilhos naquela hora) em que se ouviam coisas como: “eu moro aqui perto (...) eu tenho medo destas coisas”, etc, ditas de maneira doce e delicada por ela. Vi então o agente afastar-se do automóvel, que em fácil manobra (facilmente complicada pela condutora, por provável nervosismo), por sua vez, afasta-se do local do crime. Crime meu, não dela...


Não comentei nada nem questionei o agente que me autuava sobre a situação, apesar de agora crer que o devia ter feito. Não o fiz simplesmente por ser obedecedor e submisso e crer que à autoridade competia a eventual decisão de actuar/autuar.


Logo após a revoltante cena, recebi o auto da minha infracção e questionei o autuante sobre as maneiras possíveis de pagamento e uma dúvida (pura curiosidade) que tinha surgido entretanto. Recebi o meu auto, levando comigo alguns conselhos e novas palavras arrogantes e intimidantes e o dever que me obriga a pagar 249,40€. Entrei no carro e após algumas palavras com quem seguia comigo, retomei o meu caminho.


Na minha cabeça ficam apenas algumas questões que me deixam revoltado com a situação:


1º) O carro andava, mal ou bem, sem precisar do tal selo que lhe faltava, atestando a sua competência para efectuar a sua função. Será apenas burocracia? Por um lado sim, por outro não... no entanto não tenciono lutar contra o sistema usando isso como argumento. Apesar disso creio que poderia haver mais tolerância em relação à inspecção, como a possibilidade de me ser dada uma data em que deveria apresentar o automóvel devidamente habilitado.


2º) Se eu fosse do sexo feminino, bonita e elegante, usando palavras doces e alguns sorrisos, conseguiria escapar à multa? Pois, talvez... já conheci casos. Mesmo assim não planeio operação de mudança de sexo... talvez a compra de um carro novo e meu não me traga problemas destes.


Para reflectir: quem sabe da próxima vez que vir uma operação stop, sabendo de eventuais irregularidades no meu automóvel, ao invés de reduzir a marcha e encostar, eu acelero e fujo às minhas obrigações de cidadão exemplar (cujas características principais devem ser a obediência e submissão, eu suponho). Provavelmente, ao tornar-me um criminoso por fuga à autoridade, não serei perseguido, pois as tais autoridades estarão em rotundas no meio de vilas, autuando e deixando de autuar condutores, mais ou menos regulares, que obedeceram, e numa acção subserviente, encostaram o carro para mais uma operação stop.

Paço de Arcos, 28/08/2003

Alguns comentários:

1. O carro realizou a tal viagem até Itália, sendo que pra voltar teve que ser carregado.
2. O carro já está em meu nome.
3. O polícia que passou a multa morreu passado uns meses... e eu juro que não fui eu!
4. O meu primeiro salário da vida foi usado para pagar essa multa...!