quarta-feira, fevereiro 01, 2006

A multa

Há quase 3 anos atrás fui multado por não ter a inspecção do carro feita... aquilo revoltou-me tanto que cheguei a casa e despejei umas coisas no computador. Aqui estão elas:


O dinheiro mais difícil de gastar é aquele que paga uma multa...sinto isso agora. Não por ter acabado de pagar uma multa, mas só de pensar que terei de pagá-la. Não por que a multa seja injusta (mas também não digo que é). Toda a situação acaba por ser revoltantemente estúpida. Passo a explicar...



Ia eu dentro do meu velho e companheiro Volkswagen Golf (passo a justificar porquê os termos que foram referidos podem ser contestados ou confirmados, conforme o caso: mais à frente provar-se-á que o carro é de uma pessoa que eu nem sequer conheço; fabricado no ano de 1988, com uma inscrição curiosa no motor original: “Made in West Germany”; o automóvel seria companheiro de uma aventura por acontecer, acontecido o que aconteceu, lá se vai a odisseia a Itália... esperemos que não), quando, ao passar numa rotunda, um agente de autoridade, pertencente a um batalhão da PSP que realizava uma operação stop, ordena que eu encoste o carro.


Obedecedor e submisso, orientei o carro para onde indicava o oficial. Ao parar, pede-me os documentos da viatura, que lhe são nervosamente entregues. Seguiam comigo a minha irmã, o companheiro/mano Pedro Vintém e a nossa amiga Xana. Mesmo antes de pedir a documentação do veículo, o agente já tinha verificado os três indicadores de possível infracção: o selo, o comprovante do seguro e da inspecção do carro. Com a cara que me foi apresentada por ele, logo percebi que ele se havia apercebido que existia irregularidade em relação à inspecção do automóvel. Ao inspeccionar os documentos que lhe entreguei, começa a questionar-me em relação à falada anomalia. Logo foi buscar outra possível infracção, o proprietário do carro. Como não estava em meu nome, questionou-me sobre o tal proprietário. Expliquei-lhe que pertencia a uma “tia” minha... a tia Túlia. Sobrenome? Não me recordei... “Então não sabe o nome da sua tia?!” – perguntou o polícia de maneira arrogante. Expliquei que não era bem uma tia, apenas lhe chamava assim por tratar-se de uma amiga, há longa da data, de minha mãe.


Certamente, ao ouvir as minhas palavras gaguejadas, passaram-se muitas coisas pela cabeça do senhor... “carro roubado” ou algo do género, sugiro eu. Foi então verificar, pelo rádio da viatura policial, a quem realmente pertencia o carro. De lá, o rádio gritou um nome que me era completamente desconhecido. Pensei logo para mim que o carro não tinha sido passado para o nome da minha “tia”, apesar da distância temporal da venda do carro. Burocracias ultrapassáveis, não ultrapassadas por existirem outras burocracias envolvidas, pois o carro ainda não estava em nome dela por um problema qualquer em relação a outro carro que estava em nome dela, que não o actual, o de casada. Assim expliquei ao agente, que pela cara que fez, não deve ter tido muito em conta a minha palavra. Questionou-me sobre em quem decairia a responsabilidade do carro, sobre o que se deveria passar de seguida, afirmando pelo meio que podia apreender o veiculo e que a multa que viria seria mais cara do que aquilo que custa o velho “contentor”, como um dia lhe chamou Duarte Tornesi. Humildemente lhe disse que, naquele caso, quem poderia prever o futuro seria ele, não eu. Decidiu-se então multar-me apenas pela infracção relativa à tal inspecção do automóvel, não sei se por pena ou por preguiça.


Mudámos então o cenário da conversa, dirigindo-nos para a motocicleta que equipava o batalhão que me esperava à saída da rotunda, cerca de 8 a 10 agentes. Durante o tempo em que preenchia os autos da ocorrência, passaram-se algumas outras situações com outros automobilistas. Um senhor, aparentemente bêbado, que após o sopro no balão, afirmava que havia tido uma refeição farta e que “tinha comido muito ao almoço”. Por estar ocupado não vi a resolução do caso. Ouvi também que um outro rapaz que havia sido parado não tinha o seguro, obrigatório, do automóvel. Foi então que surgiu a situação mais ridícula. Aproxima-se um carro, se não me falha a memória, um Ford com design sofisticado cujo nome agora não me recordo. No assento do motorista, uma senhorita/senhora. Loira, aparentemente bonita e elegante, cujo cinto de segurança (não o das calças e sim o do carro) não estava a ser devidamente utilizado. Não estava a ser utilizado, ponto. Reparei na expressão risonha do oficial que se aproximou do carro da mulher... após uma breve conversa (ouvida não por mim mas pelos ocupantes do Golf branco que me punha em sarilhos naquela hora) em que se ouviam coisas como: “eu moro aqui perto (...) eu tenho medo destas coisas”, etc, ditas de maneira doce e delicada por ela. Vi então o agente afastar-se do automóvel, que em fácil manobra (facilmente complicada pela condutora, por provável nervosismo), por sua vez, afasta-se do local do crime. Crime meu, não dela...


Não comentei nada nem questionei o agente que me autuava sobre a situação, apesar de agora crer que o devia ter feito. Não o fiz simplesmente por ser obedecedor e submisso e crer que à autoridade competia a eventual decisão de actuar/autuar.


Logo após a revoltante cena, recebi o auto da minha infracção e questionei o autuante sobre as maneiras possíveis de pagamento e uma dúvida (pura curiosidade) que tinha surgido entretanto. Recebi o meu auto, levando comigo alguns conselhos e novas palavras arrogantes e intimidantes e o dever que me obriga a pagar 249,40€. Entrei no carro e após algumas palavras com quem seguia comigo, retomei o meu caminho.


Na minha cabeça ficam apenas algumas questões que me deixam revoltado com a situação:


1º) O carro andava, mal ou bem, sem precisar do tal selo que lhe faltava, atestando a sua competência para efectuar a sua função. Será apenas burocracia? Por um lado sim, por outro não... no entanto não tenciono lutar contra o sistema usando isso como argumento. Apesar disso creio que poderia haver mais tolerância em relação à inspecção, como a possibilidade de me ser dada uma data em que deveria apresentar o automóvel devidamente habilitado.


2º) Se eu fosse do sexo feminino, bonita e elegante, usando palavras doces e alguns sorrisos, conseguiria escapar à multa? Pois, talvez... já conheci casos. Mesmo assim não planeio operação de mudança de sexo... talvez a compra de um carro novo e meu não me traga problemas destes.


Para reflectir: quem sabe da próxima vez que vir uma operação stop, sabendo de eventuais irregularidades no meu automóvel, ao invés de reduzir a marcha e encostar, eu acelero e fujo às minhas obrigações de cidadão exemplar (cujas características principais devem ser a obediência e submissão, eu suponho). Provavelmente, ao tornar-me um criminoso por fuga à autoridade, não serei perseguido, pois as tais autoridades estarão em rotundas no meio de vilas, autuando e deixando de autuar condutores, mais ou menos regulares, que obedeceram, e numa acção subserviente, encostaram o carro para mais uma operação stop.

Paço de Arcos, 28/08/2003

Alguns comentários:

1. O carro realizou a tal viagem até Itália, sendo que pra voltar teve que ser carregado.
2. O carro já está em meu nome.
3. O polícia que passou a multa morreu passado uns meses... e eu juro que não fui eu!
4. O meu primeiro salário da vida foi usado para pagar essa multa...!

3 Comments:

At 7:13 PM, Blogger Mónica Chantre said...

3 anos de carta: 0 multas e 0 acidentes.

(que isto não traga azar)

mas já me safei de uma. sim, única e exclusivamente por ser mulher, tenho a certeza disso.

mas não confundam. não fiz charme nem abri o casaco, só fui obediente e submissa tal como tu.

mas ele gostou! ahahahahha!

olhem meus amigos, lutem pela igualdade dos sexos! mais mulheres polícias, menos multas pra vocês!!

 
At 8:03 PM, Anonymous Anônimo said...

Chamei-a de "Contentor" é verdade, mas continuo a amá-la!! Longa vida á "nossa" Cabra do Monte...ainda a havemos de ver estacionada em frente á Praça Vermelha.

 
At 4:07 PM, Blogger B.A.B.E. said...

Pah, coisa feia esta de ainda nem seker ter lido o post, e vir logo ler os comments! Isto parece mesmo coisa de gente futil, k afinal kuando abre os livros so ker ver bonecos, mas não, n me confundam, apenas n tive tmpo, ok!
E já que me atrevi a ler (os comments) não resito:

3Anos de Carta
5 acidentes (entre os quais apenas num não tive culpa!)
Estou com uma media de um acidente cada seis meses, o que pelas mihas contas deve estar reste a acontecer!
3 Multas! Duas de estacionamento e uma de falta de documentos!


digam la que a minha folha n está bem recheada! e ha uma semana safei.me de outra, sim, pk fiz ar de miuda perdida, que n teve culp de n andar com os documentos, e fiz kestão de mostrar as minhas galochas cor de rosa, pa ele perceber que eu memu assim, assim....assim, tonta!!!! e desculpar!
e desculpou!


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