Aconteceu-me
Irrequieto decidi comprar um ginger-ale e uma empada
E sentei-me na cadeira e na mesa que sempre ocupo.
Fingia ler algo, mas só para me enganar.
Quando de repente, ao fundo do corredor
entrelaçado por salas brancas,
uns olhos de mulher surgiram.
Não me deixaram sequer dar o primeiro gole na bebida.
Eu, Alberto, era como eureka para aqueles olhos.
Por entre mim e ela passavam narizes como se não passassem.
Fragmentos de segundo que pareciam durar e durar!
E garanto-vos que já vi muitos olhos
Mas nenhuns que me vissem
Nenhuns para quem eu fosse um achado existir como aqueles.
Merda, lá entornei eu o ginger-ale.
Entre uma limpeza rápida de calças
E mais um ou dois palavrões soltos
A mulher evaporou-se
Por uma das inúmeras portas azuis.
…
Continuei a fingir que lia e
Pedi novo ginger ale.
Mas não houve um único momento
Um único instante
Em que deixasse de pensar naqueles olhos.
(inspirando em Aconteceu-me de José de Almada Negreiros)
1 Comments:
qts vezes isso acontece a todos nós, nao? sao olhares, sao acções... deixam-nos perplexos demais para reagir, e qdo a onda passa, ja levou a nossa paixao momentanea. é bom... faz bem à guelra.
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