25º de Saudades...

Parece-me a mim que, mais tarde ou mais cedo, tem-se saudades de tudo... bom ou mau... boas e más sensações... olho-as agora com ternura... lembro-me agora delas como se fossem meninas com tótos a lamberem chupa-chupas, como putos traquinas de chapéu para o lado que metem o dedo no nariz e me olham fixamente de baixo para cima... e sorriem. Todos os que que me foram bons ou maus brincam agora todos juntos... não me fazem já rir nem chorar, mas todos me fazem sorrir...
Parece tudo ser realmente melhor quando já não o é... mas acho que não é bem isto... parece tudo tornar-se sim acolhedor, tudo ficar a 25º... más ou boas experiências parecem todas um dia, quando já não o são, quando se deixam ficar e eu avanço, parecem serenar... choro, angústia, prazer, desejo, extâse... todos os que gritam, os que ralham, os que amam, odeiam... todos se calam mais tarde ou mais cedo... serenam... como no jogo da estátua... quando nos viramos tudo está quieto... com sorriso malandro...
Já me vi a chorar como se nada o parásse, a estar onde não queria estar... a parar um pouco e desejar estar a meses e anos dali, onde sabia que ía estar acolhido, onde aqueles -40º passariam a 25º... e ajuda-me... como quando após o primeiro vómito provocado pela bebida, quando tudo está a rodar e me sinto sujo, perdido, fraco e imagino como gostava de naquele momento estar simplesmente no meu sofá a comer bolachas e a beber cacau quente... e aí aceito o estado em que estou e concentro-me naquilo que tenho de passar para lá chegar...
E já se sentiram a viver algo tão bom, algo que sabem ser bom, algo que sabem ir ficar para sempre como tão bom e por isso mesmo a tentarem como que agarrá-lo?! Normalmente percebo que quanto mais o tento agarrar mais foge, menos autêntico se torna, menos vivido... porque apanho sempre o segundo anterior e se agarro o que me fugiu é mais um que escapou... gosto acima de tudo de quando consigo não reflectir naquilo que de bom estou a viver... porque um dia aqueles 40º de sol e palmeiras e água azul vão arrefecer serenamente nos 25º da minha memória...
Agora olho para a frente e vejo muitos de costas para mim... bons ou maus, todos os que vierem vão ser um dia os que já foram... e nas minhas saudades a todos eu vou sentar confortavelmente e servir leite com bolachas...

Arrtuzinho, assim de repente vejo-te no meio da rua, na praia da rocha, bêbado, com uma máquina fotográfica... e lembro-me dos teus ténis brancos da bola... lembro-me de não perceber como tornavas tudo fácil e lembro-me disso me fazer rir...

Pratinhas lembro-me de ti na mesa do bar, no iscsp, a dizeres que a tua mãe tinha o mesmo nome da minha... lembro-me de te achar piada(my mistake)... lembro-me de achar que eras um Arrtuzinho e de também não perceber porque tás sempre a rir... lembro-me de achar que eras doente mental... mas também me lembro de querer ter essa doença...

Dani lembro-me de quando no primeiro ano disséste para a daniela de aljustrel que tinha ido ver Red Hot Chilli Peppers... mas não me lembro de quando começaste a gostar de telemóveis... lembro-me de que não sabes de que cor queres o cabelo... lembro-me de estares algures entre a Floribela e a Florbela Espanca... lembro-me de falar com as duas...

Minique... lembro-me de quando falavas com os anormais da AE (que agora já têm 50 anos com certeza) e lembro-me de quando olhava para a tua tatuagem quando me sentava atrás de ti... e lembro-me de quando olhava para a cara do Horta a olhar para a tua tatuagem... e lembro-me de não me sentir mal por olhar para a tua tatuagem depois de ver a forma como ele a olhava... e lembro-me dos teus stresses e das tuas meias-torradas com chá... lembro-me de não caberes no teu corpo... lembro-me sempre de ti com 5 anos... lembro-me de ás vezes não te abraçar com a força que queria... lembro-me de desejar que não envelheças...

Tornesi... lembro-me quando te chamava Duarte e não Tornesi... lembro-me dos muitos abraços... lembro-me quando me lembrava dos teus abraços e pensava "ele realmente dá muitos abraços"... lembro-me de falares do teu avô comunista e lembro-me da tua mão na minha testa quando vomitava... lembro-me de jogarmos lado a lado e lembro-me de comer asinhas de frango na tua casa... lembro-me de dormir mais vezes na tua casa que na minha... lembro-me de nunca teres dito que não...

José... lembro-me quando eras Emre... lembro-me de quando não tinha curiosidade de te conhecer e de quando já não me apetecia não te conhecer... lembro-me de te chamar a atenção nos jogos quando não defendias ou quando para ultrapssar um defesa(logo o Rui que era o mais alto) davas aquele toque "á lá George Weah"... e lembro-me de não fazer diferença eu dizer algo ou não... lembro-me das nossas conversas e de me perceberes... lembro-me de dançares o "Estou na lua" e de não quereres ir para um bar onde estavam "um monte de estrangeiras a roçarem-se umas nas outras"... lembro-me de gostar quando rematas seco e marcas e lembro-me de gostar de ser teu amigo...


Não me lembro como voces acabaram por surgir no texto...mas lembro-me de ter mencionado 3 coisas que menciono sempre: vómitos, cacau e a minha mãe... lembro-me também que este é com certeza o texto onde surge mais vezes a palavra "lembro-me"... apetece-me jogar á bola e comer bife com batatas fritas!!!