“Desculpe, é aqui que é a Rua António Pedro?” perguntei. “Tá no sítio certo” abrasileirou-me um homem de 50 e pouco, de cabelo e barba rala branquiçada, barriga avançada e pernas arqueadas de quem em tempos furava balizas com remates de malandragem. “Voilá, não foi difícil”, pensei. E ainda eram 15h42. Tempo mais que suficiente para disparar uma italiana e borbulhar uma água com gás. Sem óculos, porém, a rua parecia não ter um único café. “Só mais uma coisa ó amigo, há por aqui algum snack-bar?” “Tem um bem ao fundo do lado esquerdo”, respondeu já em esforço contrário. Corri o resto da rua até que dei de caras com o tal café. Jóia do Nilo era o nome. Entro com semblante de dromedário e peço. No preciso momento em que inicio as voltas de hipnose do açúcar uma voz enregela o meu ritual. “Foi uma vergonha” ouço num insuportável sotaque de adepto futebolístico ressabiado. Volto-me para trás. Quem falava era um indivíduo de fisionomia ambígua. Talvez português, brasileiro ou até mesmo angolano. Impossível definir. Estava acompanhado de mais dois. Um deles assemelhava-se incrivelmente ao homem que me dera indicações 3 minutos antes. Diria que com menos 20 anos mas igualmente barbudo e de porte largo. Ria alto e tinha um jeito impróprio de estar. O último inspirava ainda menos confiança. De estilo altivo lançava olhares zombadores aos que o acompanhavam. Toda aquela atmosfera inspirava-me sentimentos de antipatia.
Ultimei o que bebia e quando já me apressava a revirar os bolsos em busca de moedas um deles perguntou-me “Ouve lá, sabes que mais?”
“O quê?”…
Desde então passo lá muitas tardes nesse café.